Renúncia de Bento XVI foi "ato de democracia e generosidade", diz Carreira das Neves
Bento XVI, 85 anos, anunciou hoje, durante um consistório no Vaticano, a sua renúncia, com efeitos a 28 de fevereiro, invocando a "idade avançada".
Comentando à agência Lusa o anúncio, o padre Carreira das Neves sustentou que a resignação de Bento XVI foi um "ato de democracia e de generosidade" de um homem "um pouco cansado e abalado" com os "problemas graves" na Igreja, como os escândalos de pedofilia.
Carreira das Neves lembrou que, enquanto cardeal, Joseph Ratzinger pediu, por duas vezes, sem sucesso, a João Paulo II para cessar funções e que, já como papa, advogava que o chefe da Igreja Católica deveria ter o direito a resignar.
Um sinal, no entender do prelado português, de "abertura aos sinais dos tempos".
Segundo Carreira das Neves, Bento XVI sempre manifestou vontade de "viver a liturgia, o mistério de Deus", num convento beneditino, na Baviera, Alemanha, de onde é natural.
O padre franciscano e teólogo realçou em Bento XVI a "luta pelo bem e pela beleza" e a sua ligação ao "problema da verdade", à teologia, à filosofia, ao ecumenismo e às artes.
Acerca do perfil do novo papa, Carreira das Neves apontou uma pessoa "mais nova" e "dialogante", capaz de "compreender o mundo moderno", que "tem direito à sua própria identidade".
Para o prelado, o novo líder da Igreja Católica deveria ser oriundo de África ou América Latina, regiões em "explosão" económica e social. "A Europa teve o seu tempo", invocou.
O sucessor de Bento XVI será escolhido até à Páscoa, a 31 de março, de acordo com o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, que anunciou um conclave entre 15 a 20 dias após a resignação do pontífice.
Depois de 28 de fevereiro, e até à eleição do novo papa, a Igreja é governada pelo decano dos cardeais, precisou Carreira das Neves.
O último papa a renunciar foi Gregório XII, no século XV (1406-1415).